o Estado da Arte

Esta candidatura é também uma oportunidade única de sensibilizar os diferentes segmentos da sociedade insular para a importância dos viticultores na continuidade das Tradições do Vinho Madeira.

A Universidade da Madeira já formalizou o pedido de inscrição das Tradições do Vinho Madeira no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, junto do Ministério da Cultura. Este é um dos requisitos exigidos para a submissão de uma candidatura à UNESCO. A preparação do dossiê técnico teve por base o levantamento do vasto manancial de dados acerca da manifestação cultural em análise, recolhidos por investigadores de diferentes áreas do saber, desde o início do século XX. O trabalho de campo incluiu também a recolha de 72 entrevistas áudio de indivíduos de toda a fileira do Vinho Madeira, entre os quais 24 são viticultores.

Outra linha de ação, iniciada logo na fase das entrevistas, consistiu em sensibilizar os viticultores para a necessidade de estarem representados por um coletivo:, nomeadamente uma associação socioprofissional. Esta permitir-lhes-ia tomar parte de forma ativa nas decisões que irão moldar o seu futuro, sendo um passo muito importante para assegurar a sobrevivência da sua atividade.

A metodologia adotada para a preparação da candidatura privilegiou, sempre que possível, a participação da comunidade interessada neste processo de patrimonialização. Assim, a cada uma das oito empresas autorizadas a produzir Vinho Madeira, foi solicitado que selecionasse e cedesse material fotográfico e audiovisual dos seus acervos. O objetivo é documentar o pedido de inscrição no inventário nacional do PCI. Foi possível reunir, desta forma, 278 fotografias e 5 vídeos que documentam o processo de produção (da latada até ao engarrafamento). Uma dessas empresas (Madeira Wine Company) forneceu ainda cópias de vários documentos inéditos até hoje, conservados no seu arquivo empresarial. Estes documentam ocorrências importantes para a história das manifestações culturais em análise.

Umas das ações mais importantes levadas a cabo, no quadro da preparação da candidatura, consistiu na sua apresentação junto de um leque muito variado de entidades, desde organismos do Governo Regional, câmaras municipais, empresas do setor, organizações culturais e recreativas sem fins lucrativos, etc. De seguida, passa-se a elencar as reuniões realizadas com essas entidades e respetivas datas:

Também marcámos presença em eventos como a EXPO MADEIRA (Estádio dos Barreiros, 13/07/2024), facultando informações sobre a candidatura aos visitantes da feira, no stand da Universidade da Madeira.

O envolvimento da comunidade não se ficou, porém, por aqui. Os alunos do 2º ano das licenciaturas de Direção e Gestão Hoteleira (ESTG; orientação: AJMS) e de Estudos de Cultura (DLLC da FAH; orientação: NNN) apresentaram a candidatura e os seus objetivos junto de um total de 24 instituições de proximidade, incluindo juntas de freguesia, casas do povo, centros de dia, escolas secundárias, universidades seniores, associações com fins culturais e recreativas, etc. São elas:

Em cada uma dessas sessões de esclarecimento, foi perguntado à audiência por que razões a respetiva entidade deveria dar o seu consentimento a esta iniciativa. As ideias que advieram dessa partilha de conhecimento foram depois transmitidas aos respetivos órgãos diretivos das entidades de acolhimento, sendo-lhes solicitada uma carta de consentimento, com vista à formalização do pedido de inscrição na Lista Representativa do PCI.

Todas estas iniciativas criaram, por sua vez, a oportunidade de explicar pessoalmente e localmente em que consiste o património cultural imaterial e a lista representativa que a UNESCO lhe dedicou. Foi também possível esclarecer, em primeira mão, a diferença entre essa lista e a do património mundial. Os madeirenses confundem-nas frequentemente, devido à mal-sucedida candidatura das levadas da Madeira, realizada pela Secretaria Regional de Agricultura, Pescas e Ambiente, juntamente com outros organismos, incluindo a Direção Regional da Cultura (que a UNESCO recomendou ser reformulada).

A candidatura das Tradições do Vinho Madeira é também uma oportunidade única de sensibilizar os diferentes segmentos da sociedade insular para a importância dos viticultores na continuidade desta herança cultural. Fizemos, assim, eco das preocupações expressas por muitos deles durante as entrevistas, quanto ao retorno económico cada vez mais débil do seu esforço e da fraca valorização social do seu trabalho. A importância deste grupo socioprofissional foi aliás uma das ideias chave focadas durante o lançamento oficial da candidatura, que teve lugar na Universidade da Madeira, no dia 11 de setembro de 2024. O auditório encheu totalmente, o que mostra bem o carinho que a comunidade nutre pelo elemento cultural objeto do pedido de inscrição em análise. A ampla cobertura deste evento, pela comunicação social regional, nacional e internacional deu, por sua vez, a possibilidade de ampliar o alcance desta iniciativa.

A discussão pública da Carta para a salvaguarda das Tradições do Vinho Madeira, anunciada nesse dia, ficou agendada para 14 de dezembro de 2024. Estas iniciativas foram importantes porque o sucesso da candidatura depende, em grande parte, da adesão de todas as forças vivas da região. Além disso, o painel de participantes deve ser interdisciplinar, intersectorial e aberto a todas as partes interessadas, a começar pelos viticultores. Foi este o motivo que nos levou a marcar a discussão pública no Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, freguesia autointitulada “Terra de Vinho”. A autarquia de Câmara de Lobos colaborou na organização deste evento.

A participação de partes terceiras, nomeadamente das autarquias, do Governo Regional, da academia e das casas do povo, prendeu-se com o intuito de salientar a importância desta atividade para a vida económica, social e cultural da nossa região. Foi um encontro híbrido, com recurso a ferramentas de videoconferência, facilitando a participação não só da comunidade Portosantense, mas também das comunidades da Diáspora. Geralmente, estas são deixadas de parte neste tipo de procedimentos (como revelaram estudos anteriores), mas também dos importadores e de apreciadores de outras nacionalidades. Todos eles fazem parte da Comunidade Patrimonial do Vinho Madeira, que é definida como o conjunto de pessoas que se mobiliza em prol da sua viabilidade, no documento apresentado nesse dia.

Esta Carta, ou “Charter” como se designa nas arenas da UNESCO, é um elemento central da candidatura. Trata-se de uma espécie de declaração de princípios que demonstra o empenho da comunidade, que propõe a nomeação, em viabilizar o elemento cultural que pretende inscrever. Uma primeira versão deste documento foi facultada, com bastante antecedência, a todas as entidades referidas mais acima, nomeadamente todos os organismos competentes do Governo Regional e todas as câmaras municipais, juntas de freguesia, casas do povo e outras organizações culturais e recreativas sem fins lucrativos da Região Autónoma da Madeira e fora dela.

Todos tiveram, assim, a oportunidade de analisar o seu conteúdo, solicitar esclarecimentos, sugerir alterações ou mesmo adendas. No dia 14 de dezembro de 2024, foi possível apresentar um documento definitivo, logo no final do encontro, podendo ser ratificado de imediato pelos presentes, quer seja fisicamente ou virtualmente. Quem não teve a possibilidade de participar neste evento continua a ter a possibilidade de consultar a Carta e, caso aprove o seu teor, de subscrevê-la aqui.

Aguardamos agora a apreciação do pedido de inscrição das Tradições do Vinho Madeira no inventário nacional do património cultural imaterial, condição sine qua non para poder avançar com a formalização da candidatura junto da Comissão Nacional da UNESCO.

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