Este projeto visa ajudar os pequenos viticultores a beneficiar do turismo, para incentivá-los a continuarem a sua atividade, viabilizando desta forma a viticultura heroica na Madeira.

A Madeira é um destino turístico muito atrativo, não apenas devido às suas riquezas naturais, mas também à sua agrodiversidade e às suas tradições culturais. Destacam-se as associadas à viticultura heroica que remontam ao tempo do povoamento. Viticultura heroica refere-se à produção de uvas em condições especialmente difíceis e desafiadoras, como em terrenos muito íngremes, com solos pobres, altitudes elevadas ou climas extremos. Esses locais exigem um esforço físico intenso, muitas vezes com trabalho manual e técnicas tradicionais, pois o uso de máquinas é inviável devido à topografia acidentada. Por isso, a produção é geralmente limitada, mas produz vinhos únicos, com características marcantes e uma forte ligação ao terroir.
Esse tipo de viticultura é valorizado não apenas pela qualidade dos vinhos produzidos, mas também pelo valor cultural e patrimonial que representa, mantendo práticas ancestrais e promovendo a sustentabilidade em regiões muitas vezes isoladas. É considerada uma forma de agricultura de precisão e resistência, que preserva paisagens e modos de vida que correm risco de desaparecer.
É precisamente o que acontece na Madeira, onde o trabalho nas vinhas continua a ser feito manualmente como antigamente, sem recurso a maquinaria devido à orografia, à pequena dimensão das parcelas encepadas e ao seu difícil acesso.
Esta herança, que leva o nome da Madeira a todos os cantos do mundo, enfrenta hoje desafios que põe em perigo o seu futuro. O envelhecimento dos viticultores é cada vez mais notório e o abandono da atividade uma realidade cada vez mais visível. A vinha tende a ser substituída por culturas mais rentáveis. Noutros casos, dá lugar a empreendimentos imobiliários, sendo a apetência por este tipo de investimento alimentada pela atratividade crescente do destino Madeira. Este fenómeno é ainda mais acentuado nas áreas encepadas com Tinta Negra, a menos bem paga pelas adegas.
Ao longo das últimas décadas, várias medidas têm vindo a ser tomadas, tanto pelo Governo Regional como pelas empresas exportadoras para contrariar este declínio. Porém, nenhuma delas permitiu travá-lo até agora, tendo mesmo acelerado recentemente. Este projeto visa ajudar os pequenos viticultores a beneficiar do turismo, para incentivá-los a continuarem a sua atividade. As particularidades definidoras de uma viticultura heroica tornam as explorações familiares da região particularmente apelativas para os turistas, conferindo-lhes um elevado cunho de autenticidade. Conciliar a produção de uvas com o turismo seria uma forma de incrementar a rentabilidade desta atividade e torná-la mais atrativa para as novas gerações. Assim, o principal outcome deste projeto é viabilizar a continuidade da viticultura heroica na Madeira.
Este projeto é interdisciplinar, holístico, intersetorial e comprometido com os objetivos da agenda 2030 da ONU. Envolve três centros de investigação da Universidade da Madeira: o CITUR, o ISOPLlexis e o Centro de Química da Madeira. Os objetivos do projeto serão atingidos executando três eixos de ação complementares:
- ADAPTAR PRODUTOS: O enoturismo é um setor bem sedimentado noutras regiões do mundo, começando agora a ganhar alguma expressão na Madeira. Falta, contudo, adaptar a gama de produtos próprios deste segmento à realidade muito sui generis da viticultura heroica da região. Estudos anteriores deixam antever que existe um grande potencial de crescimento das modalidades de turismo responsável e do chamado Slow Tourism, tirando partido do rico património agroalimentar e enogastronómico deste espaço insular, bem como da sua elevada sustentabilidade. Pretende-se agora verificar até que ponto estes nichos poderiam ser benéficos para o caso específico da viticultura heroica. Uma observação participante será levada a cabo para identificar os obstáculos, os desafios e as potencialidades desta nova oferta.
- VALORIZAR: este eixo de ação tem por objetivo acrescentar valor à casta Tinta Negra de que depende a viticultura heroica para sobreviver na Madeira. Será criada uma experiência de enoturismo subaquático em volta de um ARMAZÉM DE MAR. A experiência irá simultaneamente permitir estudar os efeitos do meio aquático no processo de ENVELHECIMENTO de vinho tranquilo feito à base de Tinta Negra, bem como a recetividade dos turistas em relação a este tipo de experiências. O propósito é avaliar se esta modalidade de enoturismo emergente é atrativa para o perfil de turistas que visitam a RAM e se pode ajudar a melhorar a perceção da Tinta Negra por parte dos consumidores.
- APROXIMAR: pretende-se explorar formas inovadoras de aproximar pequenos viticultores e turistas. O principal output deste eixo de ação é a conceção e experimentação de uma aplicação de telemóvel. Esta permitirá pôr diretamente em contacto os pequenos viticultores com turistas interessados em disfrutar de experiências relacionadas com a viticultura heroica.
O projeto foi submetido à Fundação para a Ciência e a Tecnologia e encontra-se atualmente a aguardar o resultado do respetivo concurso. Assim, neste momento, apenas o primeiro eixo de ação (ADAPTAR PRODUTOS) está em fase de execução, com fundos destinados à preparação da candidatura das Tradições do Vinho Madeira.
O label HeViTOUR MAD identifica os produtores que participam neste projeto piloto.

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